Estudo realizado pela Veracel
Celulose nas praias da região já identificou resíduos plásticos provenientes de
mais de 20 países. O projeto busca entender as origens dos resíduos e a
movimentação das correntes marítimas, além de contribuir para a conscientização
sobre a importância da reciclagem
São Paulo, 29 de julho de
2024 - Segundo o Instituto Oceanográfico da USP (IO/USP), mais de 95% do
lixo encontrado nas praias brasileiras é composto de plástico. Dessa forma,
estima-se que cerca de 8,8 milhões de toneladas de lixo plástico acabam nos
oceanos do planeta todos os anos. E para onde navega esse plástico todo? Uma
pequena parte dessa resposta está nas praias da chamada Costa do Descobrimento,
na Bahia, em um estudo que coleta os resíduos plásticos encontrados nas praias
do extremo Sul do estado e mapeia suas origens. Em cinco semanas de coleta em
2024, foram identificadas garrafas provenientes de mais de 20 países,
reforçando preocupações sobre a quantidade de lixo presente no fundo do mar e
nas correntes marítimas.
A pesquisa é uma iniciativa da
Veracel, indústria produtora de celulose que opera na região. Em 2023, já havia
sido iniciada uma amostra deste estudo e, neste ano, a retirada do plástico e
sua catalogação tem sido feita desde maio, com uma coleta de periodicidade
semanal. Somente durante as cinco primeiras semanas, foram retirados 140kg de
lixos plásticos nas praias da região do Terminal Marítimo de Belmonte, por onde
a Veracel transporta a sua carga de celulose.
Até o momento, a maior incidência
foi de garrafas plásticas produzidas na Ásia e que podem ter vindo pelo mar ou
terem sido dispensadas por navios. Após a análise, o lixo recolhido é
encaminhado para reciclagem e novas destinações.
Um estudo da ONG norte-americana
Center for Climate Integrity mostrou que apenas 9% do plástico produzido
globalmente é reciclado. No Brasil, a porcentagem é ainda mais preocupante:
apenas 1,3% do plástico passa pelo processo. “Entender de onde está vindo o
lixo mostra que não existe o conceito de jogar algo fora, pois o fora será
sempre algum lugar. Por isso, ações de logística reversa e a conscientização da
população quanto aos hábitos de reciclagem são necessidades globais”, comenta
Carolina Weber Kffuri, bióloga e especialista em Responsabilidade Social na
Veracel.
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Segundo o pesquisador especialista
em microplásticos, André Lima, do MARE - Centro de Ciências do Mar e do
Ambiente (Portugal), os países do continente asiático e os Estados Unidos são
os maiores produtores de plástico do mundo e, atualmente, a situação é
preocupante. “O microplástico é encontrado no ar, em quase todas as espécies
marinhas importantes para o consumo humano e no sal de cozinha, por exemplo. Em
cada litro de água mineral pode ser encontrado em média cerca de 325 partículas
de microplásticos”, pontua o professor.
O professor conta ainda que os
microplásticos são encontrados nos tecidos humanos, no sangue e no leite
materno e sua presença libera compostos tóxicos, além de terem potencial
para “adsorver” poluentes orgânicos persistentes e metais pesados em sua
superfície, isto é, o processo em que moléculas de uma substância se aderem à
superfície de outra substância. “Todos esses compostos são extremamente
prejudiciais à saúde humana e ao meio ambiente, com potencial, ainda incerto,
de desencadear diversas doenças no futuro. Por isso, é alarmante que existam 150
milhões de toneladas de plástico nos oceanos, e ainda assim, poucas empresas se
comprometem com a reciclagem necessária. Essa pesquisa é importante para
fornecer dados científicos que possam informar e pressionar políticas
governamentais. A logística reversa é uma questão urgente para o
comprometimento com o 14º objetivo do desenvolvimento sustentável da ONU e,
considerando que o Brasil é o quarto maior produtor de lixo plástico no mundo,
seria incrível se todas as empresas adotassem estudos como este e, acima de
tudo, práticas de reciclagem, pois o impacto positivo seria imenso, tanto para
a saúde pública quanto para a preservação dos nossos ecossistemas marinhos”,
comenta o professor, autor de diversos artigos científicos sobre o tema, como
o Plastic Contamination in Brazilian Freshwater and Coastal
Environments: A Source-to-Sea Transboundary Approachs.
Corrente do Brasil: entendendo o lixo e o clima
O lixo plástico, oriundo de
diferentes partes do mundo, chega ao oceano Atlântico através da interação
entre diversas correntes oceânicas e a circulação termohalina, um processo que
movimenta as massas de água dos oceanos ao redor do mundo. Esse lixo
internacional é distribuído pelas praias brasileiras principalmente entre abril
e setembro, trazido pela Corrente do Brasil, uma corrente oceânica quente que
flui ao longo da costa leste da América do Sul, desde o Norte até o Sul do
país. É uma das principais correntes do Oceano Atlântico Sul e desempenha um
papel crucial na climatologia e na circulação oceânica da região.
“A Corrente do Brasil tem um papel
importante na modulação do clima costeiro, contribuindo para temperaturas mais
amenas e influenciando os padrões de precipitação. Além disso, ela influencia a
vida marinha, transportando nutrientes e organismos marinhos ao longo da
costa”, afirma Carolina. Ao monitorarmos o lixo que a Corrente traz também
conseguimos entender possíveis relações entre alterações nos padrões da
corrente com as mudanças climáticas da nossa região”, complementa a
especialista em Responsabilidade Social da Veracel.
A Veracel projeta ampliar o estudo para
mais de 35 km de praias na região, com o apoio da Ambipar, consultoria
especializada em soluções ambientais que já é parceira da Veracel no
monitoramento de tartarugas marinhas na mesma região.
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