Explosão, acidentes de
moto, cano quebrado e computador que funciona sozinho deixaram policiais sob
alerta
Enviadas especiais a Goiânia (GO) – O depoimento do
médium João de Deus à Delegacia de Estado de Investigação Criminal (Deic),
nesse domingo (17/12), não chamou a atenção apenas pelas negativas do acusado
de cometer centenas de abusos sexuais. Fatos que isoladamente poderiam ser
considerados como casuais foram tomados com certo assombro por alguns dos
presentes, conforme relatado por policiais ao Metrópoles.
O primeiro susto foi o acidente do escrivão que seria
responsável por transcrever o depoimento do líder espiritual. Ele caiu de
moto momentos antes da oitiva e teve o braço fraturado. Ele estava a
caminho de Anápolis (GO), onde o médium seria ouvido inicialmente. A oitiva
acabou sendo transferida para Goiânia.
Outro problema relacionado à transcrição das declarações de
João de Deus aconteceu no computador da delegacia, recém-adquirido. O teclado
começou a funcionar sozinho e a inserir caracteres estranhos no texto por pelo
menos quatro vezes.
Uma explosão no sistema elétrico assustou a equipe da delegacia.
Uma extensão que seria usada para ligar o ar condicionado não suportou a carga
e chegou a pegar fogo. O incidente também queimou o frigobar da delegacia
e diversas tomadas.
Os ocorridos movimentaram os bastidores do caso. “O comentário
existe por envolver uma questão de religião, mas nada interferiu no
trabalho”, disse o delegado-geral da Polícia Civil de Goiás, André
Fernandes.
Por fim, assim que João de Deus chegou ao Núcleo de Custódia
do Complexo Penitenciário de Aparecida de Goiânia (GO), onde está preso, um
cano estourou e alagou toda uma área.
Os policiais relatam, ainda, que um cinegrafista de televisão que
atuava na cobertura do caso também sofreu um acidente de moto nesse domingo.
Confira imagens do momento em que João de Deus deixou a delegacia:
Depoimento
Em interrogatório que preencheu sete páginas, o médium João de Deus,
alvo de mais de 330 denúncias reunidas pela força-tarefa em Goiás, não admitiu
abusar sexualmente de suas seguidoras. De acordo com o delegado-geral da
Polícia Civil de Goiás, André Fernandes, o líder espiritual apresentou a
versão dele para cada um dos casos e disse que os atendimentos eram coletivos –
e não individuais.
Os investigadores questionaram o fundador da Casa Dom Inácio de
Loyola sobre 15 mulheres que registraram ocorrência e prestaram
depoimento: “Ele se lembrou de cada um dos casos e explicou o que teria
ocorrido. Estava tranquilo e respondeu a todas as perguntas”.
O líder espiritual deve ser ouvido novamente pelas autoridades
nesta segunda (17/12). Os defensores do médium consideram a detenção
injustificada e, por isso, pretendem impetrar um pedido de habeas corpus,
também nesta segunda, para liberar João de Deus ou, ao menos, conseguirem a
conversão da prisão preventiva para o regime domiciliar, com uso de
tornozeleira eletrônica.
O interrogatório durou mais de quatro horas, na Delegacia
Estadual de Investigações Criminais (Deic), na noite desse domingo (16).
Depois, João de Deus foi levado ao Instituto Médico Legal (IML), para
exame de corpo de delito, e seguiu rumo ao Núcleo de Custódia do Complexo
Penitenciário de Aparecida de Goiânia (GO), onde deu entrada às 22h55 e passou
a noite.
De acordo com informações da Secretaria de Segurança Pública de
Goiás (SSP-GO), o líder espiritual ficou em uma cela de 16m² com outros três
presos (todos advogados). A previsão inicial era de que ficasse isolado,
devido à idade (76 anos) do acusado e à natureza sexual das denúncias que
resultaram na prisão de João de Deus: ele teria abusado de centenas de
mulheres, brasileiras e estrangeiras, durante atendimentos espirituais.
Ao deixar o prédio da Deic, o advogado de defesa de João de Deus,
Alberto Toron, voltou a pedir cautela na apuração dos casos. “Soa estranho que
uma mulher que se diga violentada volte tantas vezes para o atendimento. É
preciso que se julgue antes de qualquer condenação”, disse. Toron informou
que o médium negou as denúncias. (Metrópoles).
0 Comentários