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Miopia e outros erros de refração são as principais causas de
mau desempenho escolar
Pedir para sentar-se
nas primeiras fileiras para enxergar melhor, cerrar os olhos para ver de longe,
queixar-se frequentemente de dor de cabeça, coçar os olhos constantemente e
desinteresse nas atividades escolares. Esses são comportamentos na infância que
sinalizam que a criança pode ter algum problema ocular. E professores e pais
devem ficar atentos. Quanto mais cedo o diagnóstico, maior a possibilidade de
correção ou tratamento. De acordo com levantamento* do Conselho Brasileiro
de Oftalmologia (CBO), os erros de refração (miopia, astigmatismo e
hipermetropia, que podem ser hereditários) não retificados são a principal
causa de deficiência visual na garotada. No mês em que se celebra o Dia da
Criança (12/10), o Dia do Professor (15/10) e o Dia Mundial da Visão (14/10),
seguem dicas importantes para pais, com o auxílio dos professores, ficarem
atentos.
Para a região que
inclui Brasil, Argentina, Bolívia, Chile, Paraguai e Venezuela, o documento do
CBO estima em 23 milhões o número de crianças em idade escolar com “erros
refracionais, que interferem em seu desempenho diário” (devido à dificuldade de
aprendizado e de inserção social, e baixa autoestima). No Brasil, são 12,8
milhões entre 5 a 15 anos de idade com deficiência visual por erros de refração
não corrigidos, conforme o levantamento “Diretrizes de Atenção à Saúde Ocular
na Infância: Detecção e Intervenção Precoce para a Prevenção de Deficiências
Visuais”, do Ministério da Saúde.
Além disso, outras
disfunções, como catarata e glaucoma congênitos, comprometem a visão de forma
grave. De acordo com o CBO, com base na estimativa da Agência Internacional de
Prevenção à Cegueira, é possível considerar que no Brasil tenhamos 26 mil
crianças cegas por doenças oculares que poderiam ter sido evitadas ou
controladas precocemente.
A melhor estratégia,
portanto, é prevenir, diagnosticar e tratar a queixa ocular logo no seu início.
Assim, os cuidados devem começar na gravidez, esclarece Carolinne Andrade,
oftalmologista do DayHORC, empresa do Grupo Opty. No pré-natal, o especialista
diagnostica e acompanha condições nas gestantes que colocam em risco a visão do
feto, como rubéola, toxoplasmose, sífilis e herpes.
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“Ao nascer ou logo na
primeira semana do pós-parto, de preferência, os recém-nascidos precisam ser
submetidos ao teste do olhinho. Ele é essencial para investigar males que
exigem cuidado urgente, tais como catarata congênita (de maior incidência em
bebês cujas mães tiveram infecção) e glaucoma congênito (um sinal é a
fotofobia), além do retinoblastoma (tumor na retina). No prematuro, é
impreterível o exame ocular nas primeiras quatro a seis semanas após o
nascimento, ou 31 semanas de idade gestacional corrigida, para averiguação de
retinopatia da prematuridade (alteração grave na retina)”, orienta a
médica.
Ainda de acordo
com Carolinne Andrade, se estiver tudo bem com a visão, um exame
completo deverá ser feito no primeiro ano de vida e daí em diante anualmente.
Na pré-escola (dos 4 aos 6 anos) e na segunda infância (dos 6 anos até a
puberdade), as crianças devem ser examinadas, porque nessa fase são comuns os
casos de miopia (dificuldade de ver de longe), astigmatismo (a imagem é
distorcida) e hipermetropia (objetos próximos ficam embaçados).
A médica do
DayHORC alerta para outra disfunção que pode afetar a capacidade de visual
na infância, que é o estrabismo, o desalinhamento dos olhos, condição que atinge
cerca de 5% da população infantil e tem diferentes formas: para frente, para
dentro, para fora, cima ou baixo. “Vale lembrar que, até por volta dos seis
meses, é normal o desvio dos olhos. Contudo, se permanecer depois dessa idade,
o oftalmopediatra deve ser consultado. Com a falha, os olhos não focam a imagem
no mesmo sentido, ao mesmo tempo, o que pode levar à diminuição da capacidade
de enxergar, perda da percepção de profundidade e visão dupla. Daí a
importância de iniciar a correção precocemente, com o tratamento adequado em
cada caso, que inclui o uso de óculos especiais, tampão, exercícios para os
olhos ou cirurgia”, enfatiza a oftalmologista, acrescentando que qualquer
alteração expressiva na cor dos olhos após o primeiro ano de idade deve ser motivo
de visita ao especialista.
Nas aulas ou em casa, fique de olho se a criança:
1. Pisca ou esfrega os
olhos com frequência – O motivo talvez seja erro de refração (miopia,
astigmatismo ou hipermetropia), reação à alergia (por diferentes fatores) ou a
algum corpo estranho no olho, ou tique por ansiedade, estresse. O ideal é
consultar o oftalmopediatra.
2. Fica desatenta às
atividades escolares – Crianças com problema de vista costumam perder interesse
por atividades em sala de aula, evitar ler, desenhar, jogar ou fazer outros
projetos que precisam de foco de perto. Elas podem ser sutis sobre isso e não
falar sobre o que estão sentindo.
3. Tem manchas no branco do
olho – Vermelha brilhante sugere hemorragia na conjuntiva (membrana que reveste
a parte posterior da pálpebra a parte branca do olho). Provavelmente um vaso se
rompeu, normalmente, sem danos maiores. Mancha cinza indica alteração benigna,
mas deve ser examinada por oftalmologista. Às vezes, é decorrente de anemia.
Mancha marrom geralmente é nevo ou sarda. É mais comum em pessoas com cabelos
ou olhos escuros, porque produzem mais melanina. Um nevo por si só não aponta
anormalidade, porém a criança deve ser acompanhada por oftalmologista.
4. Tem olhos desalinhados –
um olho pode estar fixando para frente, enquanto o outro, para dentro, para
fora, cima ou baixo. Assim os olhos não fixam exatamente na mesma direção ao
mesmo tempo. Se não for resolvido, há risco de perda de visão no olho com
desvio.
5. Olhos dilatados ou
pupilas grandes – É comum que as pupilas das crianças pareçam maiores do que as
dos adultos, principalmente nos olhos claros expostos à luz natural ou
artificial. Certos medicamentos afetam o tamanho da pupila. Por exemplo, os
fármacos receitados para transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (o
TDAH). Se uma pupila parece consistentemente maior do que a outra ou há dúvida,
consulte a oftalmopediatra.
6. Desconforto ou coceira –
A coceira e/ou desconforto costuma ser condição temporária associada a alergias.
Pode ser acompanhada de lacrimejamento e/ou sensação de queimação e/ou
pálpebras inchadas. Se a queixa for acompanhada de vermelhidão e secreção
pegajosa, desconfie de conjuntivite. Evite que a criança crie o hábito de coçar
os olhos, porque isso é prejudicial à córnea e pode produzir ceratocone,
alteração grave na visão.
7. Dorme com os olhos
abertos – Quando as crianças entram em sono profundo, é comum que seus olhos se
abram um pouco e até se movam. Isso geralmente não deve ser motivo de
preocupação. Se costumam dormir com os olhos abertos em local com ar
condicionado ou ventilador, os olhos podem ficar secos, vermelhos ao acordar. O
oftalmologista receita, se necessário, pomada ou colírio para manter os olhos
suficientemente úmidos e evitar danos à córnea.
8. Apresenta crosta ou
gosma nos olhos – A secreção do olho pode secar nas pálpebras e nos cílios e
formar crostas. A inflamação das bordas das pálpebras (blefarite) e nas
glândulas sebáceas das pálpebras podem ser o motivo. O entupimento do canal
lacrimal também forma crostas. Nesses casos, é preciso consultar o
oftalmopediatra.
9. Inclina a cabeça ou
cobre um olho – Isso acontece porque a criança sente necessidade de ajustar o
ângulo para uma melhor visão. A consulta a oftalmopediatra vai esclarecer se o comportamento
é decorrente de desalinhamento dos olhos, olho preguiçoso (ambliopia) ou outra
disfunção. Inclinar a cabeça também pode ser hábito por erro de refração.
Algumas crianças com astigmatismo viram o rosto para o lado para ver com mais
clareza.
10. Passa muito tempo diante de telas –
Observe se a criança passa horas diante de telas e pouco tempo em ambientes ao
ar livre sem exposição à luz solar (nos horários recomendados por pediatras e
dermatologistas). Esse hábito prejudica a saúde, inclusive ocular, como, por
exemplo, eleva o risco de desenvolver ou agravar miopia. Isso já foi constatado
em diferentes estudos internacionais. O mais recente, publicado na revista
científica The Lancet, aponta que, com o necessário confinamento na pandemia da
Covid-19, crianças e jovens de 5 a 18 anos apresentaram um aumento médio na
miopia de 40% entre 2019 e 2020. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) tem
publicação sobre o tema para o público leigo: o “Manual de Orientação
#MenosTelas #MaisSaúde”.
Fontes: oftalmopediatra
Grupo Opty e Academia Americana de Oftalmologia.
*“As
Condições de Saúde Ocular no Brasil 2019” do Conselho Brasileiro de
Oftalmologia (CBO).
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