Por
Teoney Araújo Guerra*
O
povoamento na área onde hoje é o município de Eunápolis deu-se, segundo se
presume, na década de 1930, com a criação de uma pequena povoação denominada de
Córrego Grande, hoje o distrito de Gabiarra. Mais tarde, a partir de 1936,
alguns posseiros vindos de Minas Gerais se estabeleceram nos vales do rio
Buranhém e do córrego da Platina. Agostinho – que passou a ser conhecido como
Agostinho da Platina – nas margens do córrego da Platina, e posteriormente,
Manoel Quitiliano, Manoel Serrinha e Antônio Soares, no vale do rio Buranhém.
Relatos
de moradores antigos dão conta de que, antes dos primeiros “garimpeiros” – como
eram chamados os trabalhadores que construíram o “ramal”, estrada hoje parte da
BR 367 – chegarem e instalarem o acampamento que deu origem ao hoje centro
urbano de Eunápolis, nos idos de 1940, dois posseiros já haviam se fixado nessa
área: Joaquim Quatro e Dioclésio. O primeiro teria sido Joaquim. A data da sua
chegada é motivo de controvérsia. Uma das versões, sustentada por Moisés Reis,
um dos pioneiros de Eunápolis, dá conta de que isso ocorreu no dia 18 de
setembro de 1944. Enquanto a outra, sustentada por Alcides Lacerda, morador
antigo de Gabiarra, garante que isso ocorreu em 13 de maio de 1942.
Acampamento
- Eunápolis teve sua origem em um acampamento dos trabalhadores que construíram
o “ramal” – parte da rodovia hoje denominada de BR 367, que liga a BR 101 à
cidade de Porto Seguro -, entre meados de 1945 e fins de 1946*. Em 5 de
novembro de 1950, quando no acampamento foi celebrada uma missa campal e, ao
final, fincado um cruzeiro, a data foi aclamada como da fundação do povoado,
denominado de “Sessenta e Quatro”, numa referência à distância daquele local
para Porto Seguro. Nessa missa, durante a homilia, o celebrante, o padre
Emiliano Gomes Pereira, pároco de Porto Seguro, afirmara: “aqui há de surgir um
centro progressista, onde cristãos haverão de elevar bem alto os nomes de Jesus
e do Brasil”, frase que se tornou célebre para o povo eunapolitano.
Segundo
os originais de um livro inacabado deixado por Wanderley Nascimento, um dos
fundadores do povoado, “como o pagamento dos operários era feito na sede da
EMENGE, as famílias de alguns tarefeiros e operários começavam a instalar
pequenos botecos nas proximidades da empresa, margeando a BA-02 e a rodovia de
Porto Seguro. Januário Neres, morador mais antigo, juntamente com o
ex-proprietário das terras, Joaquim Quatro, instalara um casebre que servia de
pensão e depósito a pessoas e mercadorias em trânsito para Porto Seguro (...)
Foi assim que, de barraco em barraco, de família em família, o acampamento foi
tomando forma de povoado”, relata Wanderley. Teve início assim a pequena
povoação, já denominada de “Quilômetro 64”, que cresceu ocupando áreas dos
municípios de Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália, e originou o que hoje é a
cidade de Eunápolis.
Depoimento
de Antônio Lima Ribeiro, que chegou ao povoado no dia 11 de março de 1953, deu
conta de que naquela data já havia no “Sessenta e Quatro” uma ocupação na área
onde hoje são as ruas: Gravatá, Porto Seguro e Paulino Mendes Lima, onde haviam
“poucas casas e meias-águas cobertas com taubilhas e completamente fora de
alinhamento. Só na rua do Peixe – Paulino Mendes Lima – existiam duas casas
cobertas com telhas”
No
dia 7 de março de 1954, uma equipe de engenheiros liderada pelo secretário de
Viação e Obras Públicas do Estado da Bahia, Eunápio Peltier de Queiroz, veio à
povoação para inaugurar o trecho da BA 02 – ainda de terra batida – que ligava
o povoado de Mundo Novo ao Sessenta e Quatro. Recepcionado com grande festa:
ruas enfeitadas, muita gente e discursos, o secretário ouviu uma reivindicação
da população, que queria a aquisição de uma gleba de terras contíguas à área já
ocupada, visando ampliar a povoação que não comportava o grande número de
moradores, que já invadiam as terras do fazendeiro Ivan Moura. O Dr. Eunápio
prometeu atender ao pedido, e no dia 12 de maio era lavrado o Recibo da compra
de cinco alqueires das fazendas Boa Nova e Gravatá, de propriedade do
fazendeiro Ivan de Almeida Moura. A área adquirida permitiu a ampliação da
povoação.
Após
a compra dos cinco alqueires das duas fazendas, ruas foram locadas e as áreas
destinadas à construção das casas divididas em lotes, que foram distribuídos à
população. De acordo com depoimento prestado por José de Araújo Santana na
publicação “Eunápolis”, editada em 1988, esse trabalho de abertura de ruas e
demarcação de lotes foi feito por ele, Araujão, José Domingos – topógrafo – e
Antônio Lima Ribeiro.
A
partir de 1961, sertanejos de Ribeira do Pombal (BA) instalaram no povoado
grandes estabelecimentos de comércio denominados de “armazéns”, que vendiam um
grande número de produtos e gêneros alimentícios no varejo e no atacado. Esses
“armazéns”, com suas vendas no “atacado” se tornaram a principal atividade
comercial no povoado, que se tornava centro fornecedor de mercadorias de
microrregião. A partir daí, o Comércio se diversificou com novas lojas de
tecidos, produtos agropecuários, ferragens, louças, calçados, utilidades
domésticas, móveis e eletrodomésticos. Esse foi o primeiro ciclo de
desenvolvimento do Sessenta e Quatro.
Durante
esse período, foram implantadas no povoado a energia elétrica e a iluminação
pública - em 1966 -, gerada por um motor de caminhão a diesel; a primeira
agência bancária - do Banco de Crédito da Bahia –; o primeiro posto telefônico;
a instalação dos primeiros cinemas - em 1962 -, o que deu nova dinâmica à vida
social local.
O
segundo ciclo desenvolvimentista se deu a partir de 1973, com a conclusão da
parte da rodovia BR 101 que corta todo o sul e extremo sul baiano, e pôs fim ao
isolamento econômico do extremo sul baiano, possibilitando a definitiva
ocupação territorial e o povoamento da região, fazendo surgir novos núcleos
habitacionais, que depois se tornaram cidades, e desenvolveu outras núcleos
então existentes. A rodovia, que une o norte do país ao sul permitiu ainda o
ciclo econômico mais importante por que a região já passou, o ciclo madeireiro,
que teve por base a exploração da mata nativa. Estima-se que cerca de 200
serrarias se instalaram na região nesse período.
Esse
ciclo de desenvolvimento que teve como principais protagonistas os capixabas,
promoveu uma verdadeira transformação na economia local: propiciou o povoamento
da região, com a criação de núcleos habitacionais*, gerou milhares de empregos
diretos e indiretos, atraiu novos empreendimentos, empreendedores,
investimentos e milhares de novos moradores. Abriu ainda as cidades litorâneas
ao turismo, fortalecendo-as economicamente e desenvolvendo-as, especialmente
Porto Seguro, tornando o denominado “sítio do descobrimento” um importante
destino turístico nacional.
Toda
essa movimentação na economia local refletiu também no aumento populacional nos
povoados e cidades da microrregião, no crescimento do comércio, tendo
propiciado também a vinda de centenas de profissionais de diversas áreas,
melhorando assim a qualidade da mão-de-obra e a oferta de serviços,
especialmente nas áreas de saúde e educação.
Eunápolis foi autodenominado pelos seus moradores de “o maior povoado do
mundo”.
Em
1988, findo esse período de prosperidade, em razão da proibição da derrubada da
mata nativa, a economia local – e regional - entrou em uma profunda crise
econômica. com o fechamento de quase todas as serrarias, o que resultou na
diminuição drástica na circulação de dinheiro e no desemprego.
Emancipação
– O município de Eunápolis foi emancipado em meio a essa crise econômica,
através da Lei nº 4.770, sancionada pelo governador Waldir Pires, em 12 de maio
de 1988. O município foi instalado – passou a existir, de fato - em 1º de
janeiro do ano seguinte.
Uma
nova fase de desenvolvimento ocorreu no início da década seguinte, com a
implantado da Veracruz Florestal, atual Verecel Celulose, um empreendimento
sediado em Eunápolis, mas cujas área de abrangência – de plantios de
eucaliptais – atingia os oitos municípios da microrregião. Esse novo
empreendimento influenciou fortemente a economia local, injetando alguns
milhões de cruzados – moeda da época - em diversos setores econômicos
Segundo
dados oficiais, entre 1999 e 2003 – que vai da implantação dos plantios de
eucalipto até a construção da unidade industrial – o Produto Interno Bruto
(PIB) Per Capta de Eunápolis subiu de R$ 2.558,66 para R$ 4.92,10 (91%).
Desde
então, Eunápolis vem mantendo, de forma constante, um ritmo de desenvolvimento,
uma expansão urbana e um aumento populacional, que hoje o colocam entre os
maiores municípios do Estado da Bahia, e o 16º no número de empresas, com
10.352 estabelecimentos comerciais, industriais, de serviços e outros setores.
Eunápolis é ainda, o 16º em população, com 119.290 habitantes, de acordo com
estimativas da população de 2017, divulgadas pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatísticas (IBGE).
Topônimo
A
denominação da povoação de “Eunápolis” teve por objetivo homenagear a Eunápio
Peltier de Queiroz, o engenheiro agrimensor que, em 1954, quando era secretário
de Viação de Obras do Governo do Estado da Bahia, aqui esteve no dia 7 de março
para inaugurar uma etapa da estrada BA 02 – hoje BR 101 – e, atendendo pleito
dos moradores da povoação, adquiriu os 5 alqueires de terras que permitiram à
localidade se expandir e desenvolver economicamente.
O
topônimo “Eunápolis” deriva de “Eunápio”, prenome do homenageado, e “Polis”,
palavra grega que significa cidade. Portanto, Cidade de Eunápio.
*Teoney
Araújo Guerra é pesquisador da história de Eunápolis.
1 Comentários
Trabalho ótimo , maravilha , conheço Eunápolis desde 1987 .
ResponderExcluir