"Minha mãe lutou até
o final, ela não desistiu. Ela só se libertou do inferno que estava
vivendo", escreveu o filho da ativista nas redes sociais
“Usem a sua própria
voz. A sua própria vontade. Tomem as rédeas de suas próprias vidas e abram a
boca, não tenham vergonha! Eles é que precisam ter vergonha. Não aguento mais”.
Este é o trecho de um post deixado no Facebook pela ativista Sabrina de
Campos Bittencourt. Infelizmente, feito pouco tempo antes de sua morte. A
paulistana de 37 anos, que ajudou a organizar as denúncias de abuso sexual que
desmascararam o médium João de Deus, cometeu suicídio no último sábado (2/2).
Sabrina atuou em
várias causas sociais e é um nome importantíssimo na luta contra os abusos
cometidos por líderes religiosos – ela foi das criadoras do movimento Coame
(Combate ao Abuso no Meio Espiritual). Em entrevista à Carta
Capital no final do ano passado, a ativista afirmou que estava reunindo
material, ainda sob sigilo, contra 13 gurus espirituais brasileiros. Junto
com Felipe Neto, ela também cuidaria da reestruturação da imagem de Melody,
após denúncias de sexualização infantil.
De família mórmon,
Sabrina contou que, desde os 4 anos, foi abusada por membros da igreja que seus
pais e avós frequentavam. Ficou grávida de um dos estupradores aos 16 e acabou
abortando. Sua história a impulsionou a lutar pelas outras Sabrinas, em
diferentes contextos, que existem pelo mundo.
No texto, depois
apagado de seu Facebook, a ativista diz que fez o que pode e que estaria se
juntando à vereadora Marielle Franco, assassinada em março de 2018. Ela
ainda citou líderes de diversas religiões e escreveu: “Sei no meu íntimo
que todo menino nasceu puro e foi abusado, corrompido, machucado, moldado,
castrado, calado, forçado a fazer coisas que não queria, até se converter
talvez, cada um à sua maneira, em tiranos manipuladores (em maior ou menor
grau) que ao não controlar os próprios impulsos, tentam controlar a quem
consideram mais frágil e assim praticam estupros, pedofilia, adicções diversas…
Eu sei, eu sinto, eu vi. Mas ainda assim, preferi sempre ficar do lado mais
frágil nesta breve existência: mulheres, crianças, idosos, jovens, povos
originários, afrodescendentes, refugiados, ciganos, imigrantes, migrantes,
pessoas com deficiência, gays, pobres, lascados, fudidos, rebeldes e
incompreendidos…”.
Na mesma rede
social, Gabriel Baum, filho de Sabrina, fez um texto emocionante e pediu
para que as pessoas não permitam que a imagem dela seja manchada. O rapaz ainda
afirmou que a mãe disse que seria “a próxima” depois de Marielle e que deixou
um material organizado “com provas”. “Minha mãe lutou até o final, ela não
desistiu. Ela só se libertou do inferno que estava vivendo”, escreveu.
“O meu caminho foi
traçado a partir da dor do outro e da minha dor. Eu sabia desde sempre que
tinha privilégios que outros não tinham. Então, para poder me curar dessas
dores, fiz trabalho social intensamente por 20 anos”, disse Sabrina à Carta
Capital. Que essa voz não seja calada e que sua luta continue!
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