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Quando
falamos em cintos de castidade, pensamos logo em tempos medievais – na época,
esses dispositivos bizarros eram utilizados para que as mulheres fossem
impedidas de fazer sexo, e isso quase sempre foi interpretado como uma forma de
impor fidelidade, certo? Então por que esses cintos praticamente não são
citados em textos medievais?
Em
2010, uma exposição em Budapeste, dedicada somente a discutir o cinto de
castidade, apontou o dispositivo como uma forma de os cavaleiros medievais
impedirem que suas esposas os traíssem enquanto eles estivessem em batalhas,
peregrinações ou cruzadas religiosas. A questão é: essas mulheres realmente
eram submetidas ao uso do tal cinto?
Segundo
o pesquisador e escritor Albrecht Classen, autor de um livro sobre o assunto,
os cintos de castidade foram descritos pela primeira vez em 1405, no tratado
sobre máquinas de guerra escrito por Konrad Kyeser, um engenheiro e artista
alemão. Inicialmente, os cintos foram mencionados em forma de piada, mas a
“brincadeirinha” acabou saindo do imaginário e ganhando forma real.
Suposições:
De
acordo com Classen, a falta de menção do cinto de castidade em textos de
literatura, didáticos e jurídicos pode ter a ver com o fato de que esse tipo de
dispositivo atenta contra a anatomia do corpo feminino e era impossível de ser
usado na prática. O pesquisador afirma que nunca houve razão para apoiar a
existência desse tipo de instrumento, daí vem a falta de registros históricos
sobre ele.
Um
dos responsáveis pela exposição de Budapeste afirmou que cintos de castidade
inevitavelmente provocavam ferimentos vaginais e anais graves nas mulheres, e
que, na época, esses ferimentos não teriam como ser tratados, então dificilmente
o dispositivo foi usado como se pensou por tanto tempo.
Lesley
Smith, historiadora especialista no século 16, garante nunca ter encontrado um
cinto de castidade representado em obras de arte da Idade Média. Smith afirma
que nunca viu um cinto de origem medieval, mas nos lembra que, nessa época, era
proibido praticar sexo sem a intenção de ter filhos – esse fato, segundo ela,
foi um dos que sustentaram a ideia de que esses cintos eram realmente
utilizados.
Mito
A
historiadora se refere ao cinto de castidade medieval como um mito e compara as
histórias sobre ele com a ideia que as pessoas têm de que na Idade Média se
acreditava que a Terra era plana – para ela, essa história foi difundida para
que acreditássemos na falta de informação dos povos de então.
Segundo Sarah
Bond, da Universidade de Iowa, tanto a noção de que o cinto de castidade surgiu
na Idade Média quanto a ideia de que as pessoas dessa época ainda acreditavam
que a Terra era plana foram difundidas para selar o período como a “Idade das
Trevas”, a fim de valorizar o Iluminismo.
O
fato é que, para a surpresa de quem sempre relacionou a criação e o uso do
cinto de castidade com a Idade Média, historiadores e especialistas tanto no
cinto quanto no período em si se referem a essa relação como mito.
Versões
mais leves do cinto foram utilizadas por mulheres da Inglaterra e da França, já
no século 19, com a intenção de promover fidelidade e impedir a masturbação –
nessa época, o prazer sexual feminino era visto como um tipo de doença mental.
O fato é que a versão opressora do objeto, atribuída aos povos da Idade Média,
parece realmente não passar de um mito.
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